segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Se um viajante numa noite de inverno

Se um viajante numa noite de inverno
Italo Calvino (1979)
Companhia das Letras (275 pág.)

Bom, vamos começar pelo "enredo":
Um leitor é impedido de terminar um livro que começou a ler, já que o primeiro capítulo se repetia. Pensando ser um erro de impressão, ele volta à livraria e, lá, encontra uma leitora, na mesma situação. Eles recebem outros volumes que, no entanto, têm outros "primeiros capítulos".
Assim, vão se sucedendo "primeiros capítulos" de obras diferentes, enquanto eles se envolvem na busca das razões pelas quais aquilo acontece.

A sinopse é interessante, não é? Foi o que eu pensei também.
Mas o livro nem tanto. Eu terminei de teimosa.

A sensação de frustração que ele traz é muito grande.  As primeiras páginas de qualquer livro são sempre áridas.  Começa-se a falar de pessoas das quais não se sabe nada, que estão em lugares desconhecidos, fazendo sabe-se lá o quê... Mas nós, os leitores, insistimos e, de repente, tchum! estamos totalmente mergulhados e enredados na trama, de forma a não querer mais largar o livro sem virar "só mais uma página...".

O fato é que Calvino maltrata o leitor, fazendo-o começar dez histórias, passar dez vezes por todo este vazio e, quando ele começa a se sentir bem, corta o fio da meada.  A história principal, que liga os 10 "primeiros capítulos" é fraca, a pior de todas, mas... supõe-se que ele tenha querido atacar a indústria dos "best-sellers", apontando até a influência de patrocinadores sobre a roupa, bebida, carro dos personagens. 

No final, em um apêndice, Calvino responde a uma crítica que recebeu na época do lançamento e tenta explicar suas escolhas. Cita as "Mil e uma noites" como exemplo de histórias encadeadas, cita o "Exercícios de Estilo" do Raimond Queneau (ver post anterior) como variações de histórias... Mas eu teria preferido ler algumas das histórias começadas do que ficar vagando com o "Leitor" e a "Leitora" em sua "saga em busca dos romances". Não todas, mas : "Fora do povoado de Malbork" que lembra um conto do Tolstoi, "Debruçando-se na borda da costa escarpada" em que uma das personagens é uma mulher misteriosa... e "Olha para baixo onde a sombra se adensa", sobre um assassino em fuga.

Algumas outras histórias são como contos e têm um fim em si mesmas, em particular as duas últimas, o que alivia um pouco a decepção, já que estas a gente não sente necessidade de continuar.  As demais são chatas mesmo e a gente fica feliz de não ser obrigado a permanecer lendo.

É claro que não acho que a literatura sirva somente como entretenimento bobo, passatempo, embora algumas vezes seja bom ler um livro simples e, somente se divertir, mas acho que os livros são também transmissores de informações, fomentadores de idéias, questionadores.

A única questão é que, para que um livro seja considerado literatura deve conciliar o conteúdo com o prazer, senão vira tese de mestrado, discurso político ou qualquer coisa que ninguém aguenta ler.

Neste livro, há breves sinais de talento, mas muito breves. O resto é chato.

[terminei em 20/01/2010]

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